Oliver não estava mais na empresa quando Val finalizou as entrevistas. Ela quis contar a ele que havia encontrado a funcionária ideal, Oliver ficaria feliz como seu bom trabalho. Resolveu não telefonar para ele, mesmo que ainda fosse bastante cedo, Val conhecia o patrão e tinha conhecimento do quanto ele detestava falar de trabalho fora do horário normal.
Seria uma grande surpresa, pensou ela. Animou-se quando imaginou a satisfação de Oliver com o bom resultado, poderia até mesmo conseguir um aumento salarial. Ao fim do expediente ela voltou para casa feliz, mal podia esperar pelos frutos do seu bom trabalho.
Do outro lado da cidade, Ashley estacionava o carro em frente à casa. Ainda era manhã, e ela não havia se alimentado ainda. Quando entrou da casa, ouviu gritos da pequena Valentina. Olhou e viu a menina correndo pela casa, enquanto Marina corria atrás dela. Quando os gritos cessaram, logo vieram os risos. Às duas estavam se divertindo.
Quando Marina viu Ashley parada na porta, parou tudo o que estava fazendo e caminhou ansiosa em direção à amiga. Os olhos de Ashley estavam vermelhos, indicando que ela havia chorado bastante. Aquilo não parecia um bom sinal, pensou Marina.
Logo atrás, Valentina veio caminhando e abraçou as pernas de Ashley. Depois que pegou a menina nos braços, rompeu o silêncio.
— Eu espero que a Valentina não tenha dado muito trabalho a você.
— Você mesmo constatou o quanto estávamos nos divertindo – fez cócegas na menina, que se contorcia nos braços da mãe – agora me conta o que aconteceu. Como foi a entrevista?
Um silêncio se formou, enquanto Ashley colocava Valentina no chão e retomava sua atenção a Marina.
— Vamos, Ashley – disse Marina, agitada – está me matando de ansiedade.
Ashley ofereceu a ela um largo sorriso, enquanto seus olhos brilhavam.
— Eu conseguir – seus olhos encheram-se de lagrimas novamente – o emprego é meu.
Um grito escapuliu da boca de Marina, que não se conteve de felicidade. Abraçava Ashley com tanta força e empolgação, que ela mal podia respirar.
— Começarei amanhã – falou com dificuldade, depois que Marina a soltou – julga que seria um problema eu conhecer o meu chefe só no meu primeiro dia de trabalho?
Caminharam até o sofá da casa. Ashley tropeçou em uma boneca que estava no meio do caminho e quando observou melhor o ambiente, percebeu haver brinquedos espalhados por toda a casa.
— Depende – disse Marina, chamando a atenção de Ashley de volta até ela – se ele for bonito e solteiro, não terá problema nenhum.
— Não brinca, Marina – suas bochechas ficaram vermelhas – estão me contratando para ajudá-lo a resolver os problemas da empresa. Tenho receios de não conseguir.
— Se contrataram você para isso, é porque viram um grande potencial – comentou Marina – e você sabe que consegue muito mais do que isso.
— E o que eu faço com a Valentina?
Ashley não havia pensado nisso. Marina tinha o seu emprego, mal ficava em casa, ela não tinha com quem deixar a filha para ir trabalhar. Levantou-se nervosa, com os pensamentos bombardeando a sua mente.
— Eu cuidarei disso, tudo bem? – Marina segurou em uma de suas mãos, mas Ashley não parecia se acalmar – eu conheço uma moça que prestas serviços de baba. Ela é confiável e cuidará de Valentina perfeitamente.
— Tem certeza disso? – o pavor tomou conta do rosto de Ashley.
— Precisa parar de sofrer antecipadamente – puxou o braço dela, fazendo-a sentar-se novamente – aliás, deveria arrumar um namorado.
Ashley revirou os olhos, sorrindo da bobagem a qual Marina se referia. Depois do fim do seu casamento com Oliver, ela nunca mais havia se relacionado com mais ninguém. Claro que o universo não cooperava nunca ao seu favor. Havia colocado em sua vida, homens arrogantes e mesquinhos. Ashley até tentou se relacionar novamente com um colega da faculdade, porém, ele parecia ser a sombra do Oliver com uma pitada de obsessão, o que fez Ashley desistir de tentar novamente.
— Você sabe o que eu penso sobre isso – respondeu um tanto sem vontade de ter aquela conversa – não é um assunto tão simples de se resolver ao ter uma filha pequena em casa.
— Nem todos os homens vão querer eliminar a sua filha como o Oliver disse que faria – enfatizou – quem sabe esse novo namorado não seja o chefe que você conhecerá amanhã.
Marina tinha uma imaginação incrível, e mesmo que Ashley admirasse esse lado criativo dela em criar cenários impróprios, Ashley resolveu não a ouvir mais. Imagina, ela se envolvendo amorosamente com o próprio chefe? Certamente ele era casado, ou podia ser um homem bem mais velho do que ela. Dispensou os pensamentos que rondavam sua mente e se levantou novamente pronta para partir.
— Deveríamos nos preocupar com o almoço – disse Ashley, enquanto caminhava em direção à cozinha – eu só vou conversar com você após comer alguma coisa. Estou fraca demais para me enfiar nas suas teorias.
Marina riu do outro lado, mas não tocou naquele assunto durante todo o dia. No final da noite, enquanto preparava o jantar, Ashley conheceu a baba que cuidaria de Valentina enquanto ela estivesse trabalhando fora. Conversaram por horas e quando ela foi embora, Ashley soube que deixaria sua filha em boas mãos.
No dia seguinte, quando o sol não havia nascido, Ashley se levantou. Do lado da cama, Valentina dormia tranquilamente. Ela caminhou até o banheiro e se arrumou para ir trabalhar. Quando Marina apareceu na cozinha, ficou espantada que o café da manhã já estivesse pronto. Só quando a baba chegou, as duas partiram juntas.
O trânsito na cidade já estava um caos, o que aumentou gradativamente o nervosismo de Ashley. Quando Marina estacionou o carro em frente a empresa, Ashley pensou que iria colapsar.
— Vai dar tudo certo – olhou nos olhos dela, enquanto segurava em seus braços – tenho certeza, que independente de quem seja o seu patrão, ele vai se surpreender com você.
— Obrigada – foi tudo o que ela conseguiu dizer antes de abraçar Marina e descer do carro.
Enquanto observava Marina indo embora, sentiu suas pernas fraquejarem. Virou-se, olhando para o prédio que parecia tão simples. Respirou fundo e caminhou em direção ao seu novo emprego.
Oliver havia acabado de chegar na empresa, quando Val caminhou apressada atrás dele. A mulher tinha grandes novidades para contar ao patrão, mas Oliver não parecia estar de bom humor naquele dia. Val estava ciente que apesar de aparentar frieza, Oliver estava longe de ser insensível, ao menos com ela. Ele sempre a tratava com respeito, independente do vendaval que ocorria ali fora. Com ela as coisas sempre eram diferentes.
Quando Oliver percebeu a presença da mulher no escritório dele, já sabia que se tratava. Os olhos de Val brilhavam e a mulher sentia suas mãos suarem de ansiedade, para que ele soubesse logo da novidade.
— Contratei a nova funcionaria – disse cheia de empolgação – tenho certeza de que fiz uma boa escolha.
Oliver massageou sua têmpora dolorida, enquanto parecia não prestar atenção nas palavras de Val. A atitude do patrão a decepcionou. Oliver parecia preocupado com alguma coisa.
— Está tudo bem, senhor Oliver? – Perguntou, enquanto o observava minuciosamente – quer que eu traga um analgético? Um café quem sabe?
— Não se preocupe comigo, Val – disse em um tom tranquilizador, enquanto ajeitava a postura na cadeira – tive alguns assuntos para resolver ontem, mas tenho convicção que você fez uma boa escolha. Quando ela chegar, peça para vir até a minha sala.
Val sorriu satisfeita com a resposta de Oliver, apesar de parecer preocupada com o estado deplorável dele, saiu da sala sem dizer mais nada.
Quando já se preparava para iniciar o seu trabalho, observou Ashley chegando. Seus olhos encheram-se de alegria, enquanto Ashley temia sobre o que iria encontrar ali dentro. Ela parecia uma menina perdida, que olhava ao redor, tentando encontrar uma saída.
— Bom dia, senhora Val – a voz rouca e tímida demonstrou o quanto ela estava nervosa.
— Bom dia, Ashley – segurou calorosamente em suas mãos - o patrão pediu para você entrar.
— Agora? – Os olhos arregalados provaram que ela não estava preparada para aquele momento.
— Não há o que temer – disse, tentando acalentá-la – ele parece ser rigoroso, mas tem um bom coração.
Só em pensar nas palavras de Val, uma nuvem de preocupação pairou sobre o seu rosto. Ashley estava cansada em lidar com homens rigorosos que pareciam ter o coração bom. Enquanto sentia suas pernas travando, Val continuou incentivando-a entrar na sala do seu novo patrão.
Val abriu a porta para que ela entrasse. Um passo de cada vez e ela, enfim, estava na sala. Não prestou atenção que havia sido anunciada. Os olhos de Ashley estavam encantados com a decoração do escritório, que transmitia calma e conforto a quaisquer pessoas que entrasse ali.
Quando olhou para a janela, havia um homem parado de costas para ela. A figura esbelta do homem parecia escupida. Vestia um terno elegante e tinha o cabelo bem penteado. Apesar disso, Ashley não conseguia ver o rosto dele, ele devia ter um pouco mais de um metro e setenta de altura, mas isso era tudo que ela conseguia ver.
Sentindo a garganta seca, pigarreou antes de falar.
— Eu sou a Ashley – era a mesma voz doce e calma que Oliver jamais havia esquecido – e a Val me contratou para trabalhar com o senhor.
Do outro lado da sala, o corpo de Oliver estremeceu ao ouvir aquela voz novamente. Não era possível que o mundo fosse tão pequeno. Ele se virou lentamente para ter certeza de que não estava tendo uma alucinação. Estava atordoado, com a garganta seca, sentindo seu corpo enfraquecer. Quando os olhos de ambos se encontraram, foi como um impacto causado por uma bomba atômica. Oliver mal podia acreditar. As feições de Ashley eram as mesmas, mas agora ela estava mais bonita. Já não eram mais a menina a qual ele se casou um dia.
Quando Ashley finalmente conseguiu recuperar o folego e a sensação de tragédia iminente só aumentava em seu peito, sentiu vontade de correr para longe dali. Ela se deu conta do que estava acontecendo.
Era um pesadelo.
Oliver White era o seu novo patrão.