Oliver já não sabia dizer se era dia ou noite. Desde que chegou da casa de Ashley, havia se trancado no escritório e não saiu de lá até sentir que toda a dor havia ido embora. A garrafa de uísque estava seca ao seu lado. Os cabelos despenteados e o semblante abatido mostravam que Oliver ainda lutava desesperadamente para manter qualquer dignidade que ainda lhe restava.
Batidas na porta o emergiram a realidade.
Uma voz feminina do outro lado chamava pelo nome dele. No fundo da mente do Oliver, ele desejou que fosse Ashley que estivesse ali, se humilhando, implorando o seu perdão. Mas ele sabia que Ashley seria incapaz disso, mesmo sendo uma garota de dezoito anos, ela tinha uma personalidade que nenhuma outra mulher mais velha, a qual ele já conheceu, obtinha.
Ele estava jogado no chão do escritório quando Stefany finalmente entrou. Com os olhos fixos em um ponto no chão, Oliver não olhou para ela, sentiu um nó de nervosismo roubando toda a sua força.
Stefany sentou-se no chão frio em frente a ele, o olhando com piedade.
— Onde você esteve? – A voz era doce e calma – eu já estou ciente que a Anny te expulsou da sociedade. Eu sinto muito Oliver.
Era obvio que Stefany não havia pensado nessa possibilidade quando armou todo um plano para a culpa cair em cima de Ashley. Certamente ela nunca presenciou Oliver tão abatido.
— Tarde demais para lamentações – nesse momento o olhar dele fixou-se nos dela. Havia um vazio enorme. Era horrível o odor que saia da boca de Oliver.
— Não pode ficar aqui a noite se lamentando – ela segurou pela mão dele, tentando puxá-lo para cima – Filipe me expulsou de casa, não tenho mais para onde ir.
Quando Oliver finalmente se levantou, sentindo extremamente tonto, Stefany o abraçou, afundando o rosto no peito dele.
— Isso já não importa mais – Oliver atropelava as palavras – ficaremos juntos e enfrentaremos essa situação até vencê-la.
Stefany suspirou, de alívio, felicidade por conseguir o que finalmente queria. Se afastou de Oliver, voltando a olhar em seus olhos.
— Diga-me, o que você fará com a Ashley? – Travou os dentes ao se referir a garota – ela precisa pagar pelo mal que fez a nós dois.
— Ela pagará – disse, com a angústia explodindo no peito – amanhã assinaremos o divórcio e tomarei de volta a casa onde ela e o Ethan mora.
Stefany finalmente sentiu que estava em um estado relaxante, segura e em paz. No final das contas, não havia sido uma grande bobagem armar tudo para que o Filipe os pegasse. Um sorriso largo e satisfatório surgiu em seu rosto. Ela queria ver Ashley destruída e longe daquele lugar, para que Oliver jamais descobrisse a verdade ou pior, que ela esperava um filho dele.
— Achei que seria mais implacável com ela – tinha veneno escorrendo no canto dos seus lábios – deveria mandá-la para o exílio, isolá-la do mundo, para que nunca mais possamos vê-la novamente.
— A Ashley já não é mais um problema meu, Stefany – se afastou dela, largando o copo que segurava no chão. Cambaleou, segurando-se na estante de livro que havia perto da porta.
Ele não se sentia nada bem, com a cabeça latejando, os olhos ficaram pesados, o corpo fraquejou. Ainda assim, ele se fazia de forte e não demonstrava nenhum sentimento sobre o que estava acontecendo ao seu redor.
— Filipe quer me deixar na miséria – Stefany choramingou pelas costas de Oliver – você precisa me auxiliar a impedi-lo.
Oliver, já de costas para ela, levantou uma das mãos, indicando que ela parasse imediatamente de falar. Com a outra mão massageou a cabeça.
— Agora não, Stefany. Me poupe das suas lamentações – segurou a maçaneta da porta e a abriu – peça para que os empregados me levem um analgético até o meu quarto. E você dorme no quarto de hóspedes hoje.
Caminhou para fora com dificuldades, abandonando-a. Agora Stefany estava encostada sobre a mesa saboreando cada momento da sua vitória. Nem mesmo o desprezo de Oliver a impediria de comemorar.
No dia seguinte, quando Oliver desceu as escadas da mansão em direção à mesa de jantar, Stefany já estava lá, sentada no lugar mais importante da mesa. Era claro que ela já se sentia a dona da casa. Havia um ar de soberba ao redor dela e não precisava mais se esconder e nem fingir que estava onde sempre quis estar: ao lado de Oliver.
— Vai sair assim tão cedo? – Levou a xícara cheia de chá até os lábios – achei que descansaria hoje.
— Estou indo à casa do Ethan levar os papeis do divórcio para a Ashley, e expulsá-la daquela casa.
Stefany deu um salto da cadeira. Não escondeu seu entusiasmo com aquele momento.
— Por favor, deixe-me ir com você – caminhou até ele, com os olhos brilhando - não tire de mim o prazer de ver aquela garota, derrotada.
Oliver a observou com cautela. Para ele não era nenhuma surpresa saber que Stefany odiava Ashley, mas ele não sabia da intensidade dos seus sentimentos.
— Por mim não há nenhum problema – ela deu pequenos pulos de alegria – mas se apresse, porque o advogado já está nos esperando.
Oliver caminhou para fora da mansão. Stefany sorriu triunfante quando entrou no carro junto a Oliver, ansiosa pelo momento em que presenciaria a derrota humilhante de Ashley.
Quando chegaram, a casa estava silenciosa, e não havia vestígios de que Ashley e Ethan estavam ali. O clima era tenso, porque no fundo Oliver esperava encontrar uma menina desesperada, implorando pela sua misericórdia. O tipo de vibração que o deixaria eufórico e satisfeito, mas Ashley não estava ali e um desconforto constante invadiu seu estomago, como se uma faca fosse conduzida através dela.
Segundo depois, um homem também atravessou a porta da casa de Ethan. Oliver o olhou assustado e na defensiva.
— Bom dia, senhores – disse com um sorriso no rosto, enquanto estendia a mão para cumprimentar o Oliver – eu sou o advogado Barnet, e estou aqui para representar a senhorita Ashley.
Um espanto súbito de choque invadiu todo o seu corpo. Oliver olhou para Stefany, que parecia tão incrédula quanto ele. Depois olhou para o seu advogado que deu de ombros, tratando a situação como algo casual e normal.
— Onde está a Ashley? – Perguntou com urgência enquanto um nó se formava em sua garganta.
— A senhora Ashley não se encontra mais na cidade.
Oliver parecia completamente perdido. Como Ashley não estava mais na cidade? Com que dinheiro ela havia conseguido pagar um advogado? A decepção estava estampada em seu rosto.
— Ela assinará os papeis do divórcio – continuou Barnet – e pede para informá-lo que entrará com uma ação contra o senhor e exigirá a parte que lhe é de direito.
— Direitos? – Oliver riu – Mas o que diabos está acontecendo aqui? Isso só pode ser uma brincadeira não é mesmo?
— Me perdoe, senhor White, talvez eu não tenha esclarecido as coisas corretamente – ajeitou a gravata e olhou bem nos olhos de Oliver – Sou advogado da senhora Anny Vasconcelos, que pediu para que eu representasse a Ashley. Agora a menina está sob os cuidados de Anny.
Do outro lado da sala, Stefany deixou escapar, entre sussurros, toda a sua frustração. Mas o pior de tudo era o horror estampado no rosto de Oliver. Ashley havia certamente contado toda a verdade para Anny, desde a aposta do casamento até a gestação falsa. Anny deveria admirá-la muito para comprar a sua causa.
— Então Ashley fugiu como uma covarde? – Engoliu a seco, com um sorriso irônico no rosto. Ele precisava sair vitorioso – Se ela está pronta para travar uma guerra comigo, diga a ela que estou pronto.
— Ótimo! – Sorriu Barnet – hoje mesmo a assinatura do divórcio estará em suas mãos – pegou o papel que o advogado de Oliver estendia para ele e o guardou em sua pasta – A senhora Ashley mandou lembranças, senhor Oliver.
Oliver ficou olhando para o homem enquanto ele ia embora da casa, mas não conseguiu esboçar nenhuma reação. Oliver não deveria estar espantado, Ashley já havia provado a ele sua capacidade de surpreendê-lo. Mesmo com a pouca idade, aquela menina tinha uma mente genial. Apesar da postura forte imbatível, Oliver saiu da casa com o sentimento de derrota. Jamais confessaria que seu peito ardeu por saber que não veria Ashley nunca mais.