Infelizmente! Foi o amanhecer de um novo dia e de uma nova era. O próprio sol parecia estar de bom humor com o resto da casa Dankworth. Ele alcançou toda a sua glória já na sétima hora do dia e espalhou sua luz sobre qualquer um que quisesse andar sob ele.
O calor do sol era acolhedor, envolvente, e brilhava apenas o suficiente em seu quarto para que Lancelot olhasse mais uma vez por cima de sua túnica preta.
"Ainda não entendo por que não posso simplesmente usar meu terno habitual." Ele resmungou, olhando para a túnica e capa preta medieval da Inglaterra.
"Você não pode, senhor, porque não é um dia normal qualquer." Peter, seu assistente falou, segurando gentilmente a mão de Lancelot e testando um par de abotoaduras de diamante, a pedra de diamante envolta em um pequeno invólucro de ouro; deve ter custado uma fortuna.
Lancelot suspirou. Na verdade, era o dia que seus pais esperavam há doze bons anos. Foi o dia que ele dedicou toda a sua vida para ver, foi o dia em que finalmente teria o poder de acertar as coisas, com todos.
E Lancelot não pôde deixar de sentir que Peter estava ainda mais animado do que ele. O homem estava sorrindo desde que entrou na sala esta manhã, e Lancelot queria compartilhar sua alegria, ou saber o motivo.
"Você parece estar de bom humor esta manhã. Se eu não soubesse, teria pensado que era você quem seria coroado."
Peter riu, mas não olhou para Lancelot.
"Hoje mudaria muitas coisas para você, senhor. Estou muito feliz por ter a oportunidade de ver isso."
Lancelot desviou o olhar de Peter para a imagem de si mesmo no espelho. Ele sabia o que Peter queria dizer, mas preferia não insistir nisso. Em primeiro lugar, ele precisava ter a coroa de seu pai na cabeça.
Só então, Peter ouviu o telefone de Lancelot tocar. Ele fez uma pausa e virou-se para a mesa onde estava o telefone.
"Eu deveria ver o que há nele." Peter falou e Lancelot deu-lhe um breve aceno de aprovação. Era o telefone com o qual Peter normalmente atendia e respondia às mensagens de negócios de Lancelot, não sua linha pessoal, para que Peter pudesse fazer o que quisesse.
Ele largou as abotoaduras no assento ao lado da cama e caminhou até a mesa do escritório onde estava o telefone. Ele o atendeu, apertou o botão home e folheou a notificação.
Era um anexo de vídeo de um número desconhecido.
Os olhos de Peter se estreitaram em suspeita. Ele clicou na notificação e a mensagem apareceu em sua tela.
O vídeo tinha a legenda “SOS (salve nossa alma)”. As sobrancelhas de Peter franziram-se em confusão. Ele clicou no vídeo.
Seu queixo caiu ao ver os primeiros quatro segundos. O sangue foi drenado de seu rosto, enquanto seus olhos absorviam a visão mais horrível que ele já teve que ver.
Uma mulher amarrada à cadeira, com sangue escorrendo pela lateral do rosto, acompanhado de vários hematomas nas bochechas e um nariz quebrado. Ela estava sendo atingida continuamente, mas Peter não conseguia ouvir uma palavra do que era dito porque o vídeo estava silenciado. Ele também não conseguia ver o rosto da mulher, porque suas mechas de cabelo castanho bloqueavam a visão de seus olhos.
Justamente quando ele estava prestes a caminhar até Lancelot e mostrar-lhe a mensagem, por não entender o que deveria fazer, a mulher levou novamente um tapa no rosto e sua cabeça caiu para o lado sem esforço. Os fios de cabelo saíram de seu rosto e seus olhos apareceram.
A respiração de Peter ficou presa por frações de segundo.
Roxanne!
"Você pretende ficar olhando para o telefone o dia todo?"
A voz de Lancelot pairou acima dele e Peter estremeceu de choque e medo.
"Tudo certo?" — perguntou Lancelot, quando Peter se voltou para ele.
Não, nada estava bem. Peter queria dizer, mas desistiu.
Em vez disso, ele fingiu um sorriso e enfiou o telefone no bolso da calça do terno.
"Claro, senhor. Está tudo."