Roxanne ficou quieta enquanto o seguia. Depois da sala de jantar, eles caminharam pelo longo corredor de quartos por cerca de cinco minutos, antes de Peter conduzir Roxanne até a sala de estar.
Quando ela entrou, se sentiu da mesma forma quando entrou na sala de jantar: como se ela não pertencesse a esse lugar.
Pela segunda vez naquela noite, todos ficaram quietos e prestando atenção nela. Havia duas poltronas luxuosas e grandes na sala, com quatro pessoas em cada uma. Ao redor das poltronas, tinha três sofás ao redor, também com pessoas sentadas neles. E todos eles estavam olhando para ela, esperando que ela começasse a tocar.
"Sra. Ludwig Beethoven! Você finalmente decidiu se juntar a nós", Albert disse em voz alta, e Hermione riu.
Roxanne forçou um sorriso e entrou na sala. Peter estava na frente dela e ficou encostado na parede novamente, assim como fez durante todo o jantar.
"Minhas desculpas, vossas Majestades", ela disse, se curvando para sua pequena plateia.
Quando todos acenaram com a cabeça, ela se virou na direção do piano.
Algo no coração de Roxanne saltou de alegria. O piano de cauda branco, com um metro de altura à sua frente, era a coisa mais linda que ela já tinha visto em muito tempo. O banco era branco e combinava com a cor sofisticada da sala, assim como com a mobília luxuosa.
'O que essas pessoas não tem?', Roxanne pensou.
Mas, enquanto caminhava até o piano, seu batimento cardíaco começou a acelerar novamente. De repente, ela pensou que não soubesse o que estava fazendo. Quando ela se sentou no banquinho e se virou para todos eles, seus olhos encontraram a porta.
'Não, agora é tarde demais pra desistir', ela pensou. Ela sempre saía correndo e culpava uma dor de estômago.
Enquanto ela ainda estava se preparando, seus olhos encontraram os de Lancelot. Ele estava com uma expressão entediada no rosto, como se preferisse estar em qualquer lugar menos ali, olhando para ela e esperando que desse tudo errado.
A mandíbula de Roxanne apertou e seus olhos se estreitaram para ele.
Ela queria que ele fosse pro inf*rno com sua covardia.
Ela iria tocar piano do jeito que sempre tocou. E ela encontraria alegria nisso. Piano era uma das poucas coisas que a deixava feliz, e nada mudaria esse fato.
Então, ela se voltou para o instrumento à sua frente. Ela podia sentir que todos estavam olhando para ela, mas ela ignorou tudo isso. Ela fechou os olhos e estendeu as mãos para as teclas do piano.
Quando ela tocou a primeira tecla, foi mágico.
A primeira a ser tocada foi "Strange", de Kris Bowers. Ela tocou a doce melodia com um lindo sorriso no rosto.
Todos na sala ficaram surpresos. Não era apenas uma habilidade, essa era uma forma da sua alma estar sincronizada com cada tecla que ela tocava. Eloise se pegou sorrindo enquanto fechava os olhos, Arthur estava visivelmente maravilhado. Ele não conseguia desviar o olhar dela.
Albert levantou uma sobrancelha, ficou surpreso, mas não demonstrou muito. Madeline apenas olhou para ela, ela não conseguiu dizer nada em relação ao que ela estava sentindo naquele momento.
Ao lado de Lancelot, Ava observava Roxanne com atenção. Seus olhos ocasionalmente analisavam o rosto de Lancelot para ver sua expressão. Ela queria ter certeza de que ele não estava sendo hipnotizado pelas habilidades dessa mulher. Ela ficou aliviada quando viu como Lancelot parecia entediado e inexpressivo.
Depois de "Strange" ela tocou Wolfgang Mozart, "A flauta mágica".
Acontecia que essa era uma das músicas favoritas de Lancelot. Enquanto Roxanne jogava toda sua alma em cada tom que tocava, ele jogava a cabeça para trás e mantinha os olhos fechados para apreciar o momento. Os homens ficaram impressionados e as mulheres também.
E ela terminou após sete minutos tocando, seguido pelo clássico de Beethoven, "Piano sonata".
Quando Roxanne tocou o primeiro tom dessa música, Arthur teve vontade de pular de onde estava sentado e abraçá-la. Ele nunca tinha ouvido ninguém tocar Beethoven com tanta alma. Embora todos sempre tentassem tocar bem, essa canção perfeita.
Depois de um tempo, o tom se intensificou e Roxanne, mais uma vez, deixou sua alma assumir o controle. Que fossem para o inf*rno quem falassem que ela tocava mal. Era só ela e seu piano mais uma vez.
Madeline estava totalmente enojada. Ela não sabia por que esperava que aquela mulher vulgar respeitasse o talento artístico de Beethoven. Ela ficou irritada com a forma como Roxanne tratou a canção, ela lidou a melodia com abandono como se fosse sua música! A moça tinha um espírito muito livre e isso irritou Madeline.
Ava pensava as mesmas coisas que Madeline, enquanto franzia a testa.
De onde estava, os olhos de Peter pousaram em Lancelot. Ele estava com a cabeça para trás e os olhos fechados e Peter percebeu que ele estava admirando cada ritmo e nota da música. Ele sabia que Lancelot estava flutuando na melodia. Era óbvio pela paz que seu rosto demostrava.
Finalmente, Roxanne chegou ao fim da melodia e foi saudada com aplausos retumbantes.
"Obrigada, obrigada", ela disse, se curvando para todos. Ela caminhou até eles e os olhos furiosos de Madeline a seguiram. No entanto, ela decidiu aproveitar a situação também.
"Ava", ela gritou. Ao ouvir o nome dela, Ava se levantou para falar com ela.
"Por que você também não toca algo?", Madeline perguntou com um largo sorriso no rosto. Ava corou enquanto olhava em volta.
"Ava terminou a escola de artes, Venice. Onde ela estudou música e orquestra. Ela também ganhou vários prêmios ao longo dos anos. Eu listaria todos eles, mas estamos com pouco tempo", ela se virou para Ava novamente. Ao lado dela, Edward simplesmente revirou os olhos.
Ava estava corada de vergonha, mas subiu ao palco. Ela olhou para o público com um olhar orgulhoso, ela estava mais do que pronta para deixá-los atordoados. Ela ensinaria para a americana imprudente exatamente como se tocava um piano: com graça e equilíbrio.
No entanto, assim que Ava começou, os olhos de Lancelot se abriram. O tom era melodioso, mas faltava a alma e o espírito que Roxanne tinha ao tocar. Quando viu Ava sentada no banquinho, não ficou mais surpreso. Seus olhos procuraram por Roxanne e ele a encontrou parada ao lado de Peter. Quando ele sentiu que ela estava se virando para olhar para ele, ele virou o rosto para não olhar para ela.
Sete minutos da peça de Ava, Elizabeth bocejou e se levantou. Não havia nada cativante para mantê-la acordada. Lentamente, um por um, todos se desculparam e foram para seus aposentos. Lady Marion e Lady Eloise, Hermione e Albert, James e Arthur, Reuben, Lord Bailey e Lord Richard antes de Madeline e Edward.
Restaram Lancelot, Peter e Roxanne na sala.
Lancelot se sentiu obrigado a ficar para trás pois não queria ter nenhum contato visual com Roxanne ainda, então continuou sentado no sofá e observou Ava terminar a música.
Quando Peter percebeu que ela estava fisicamente cansada, ele bateu no ombro de Roxanne. Ela forçou um sorriso fraco enquanto se virava para ele.
"Vamos vou te levar para seu quarto, você ainda não está forte o suficiente pra ficar até tarde da noite acordada".
Roxanne riu e seguiu Peter. Lancelot percebeu quando ambos tinham ido embora da sala. Ele mal podia esperar que Ava terminasse de tocar.
Ava, por outro lado, viu isso como uma oportunidade de passar mais tempo com ele e de impressionar ele de alguma forma. Então, ela não iria acabar com isso tão cedo.
Enquanto Peter e Roxanne caminhavam novamente pelo corredor, Peter apontou para uma porta.
"Esse é quarto do senhor Lancelot", ele apresentou em voz alta. Quando Roxanne se virou para ele, uma sobrancelha cansada se ergueu. Ele sorriu e se virou. "Caso lhe peçam pra trazer algo para o quarto dele, é isso", Peter disse, desviando o olhar dela.
Francamente, ele nem sabia por que havia falado onde ficava os aposentos dele. Ele apenas sentiu a necessidade.
A porta estava entreaberta e Roxanne conseguiu espiar um pouco.
"Magnífico", ela pensou em voz alta.
Na verdade, é mesmo.