Sentada lado a lado do homem em uma cabine apertada enquanto iam para a igreja, Roxanne sentiu o seu cheiro.
Ele cheirava a creme pós-barba com sabor de menta com uma mistura das melhores fragrâncias árabes. Ela sabia, por que já trabalhou com muitos clientes árabes importantes na LexCorp.
Seu coração paralisou ao pensar na empresa. LexCorp.
Lavanda, era assim que ela cheirava. Ela era tão linda quanto a flor roxa, ela estava sentada ao lado dele, as mãos cruzadas em cima do colo enquanto olhava pela janela distraidamente.
Lancelot sentiu uma vontade estranha de conversar com ela. Pela primeira vez, uma mulher parecia indiferente perto dele. Ela não estava nem um pouco interessada em se rastejar para a cama dele na primeira chance que tivesse, tirar uma foto ou até mesmo pegar o número dele.
Tudo o que ela queria era um acompanhante para um casamento de um estranho. Sobre o qual ele agora estava curioso.
"Tentando deixar um ex com ciúmes?", ele perguntou. Ele pensou em dar um tapinha na coxa dela para chamar sua atenção, mas desistiu, o local já estava quente o suficiente para ele.
Roxanne se virou para ele e suspirou fundo.
"Uma longa história", ela falou.
Lancelot quis rir. Depois de decidir contra isso, ele simplesmente assentiu com a cabeça.
"Então existe um ex?", ele perguntou novamente, se afastando dela brevemente.
"Claro que sim! E ele vai se casar com a minha irmã gêmea".
Quando ela percebeu que ele estava com a sobrancelha levantada em questão, ela deu risada e continuou.
"Sim, eu tô falando de algum tipo de m*rda bíblica sobre Rachel e Leah", ela continuou.
Lancelot se divertiu muito com o estudo do caso dela, ele tinha certeza de que já tinha ouvido essa história há muito tempo, mas não lembrava de que as irmãs eram gêmeas.
"Rachel e Leah não eram gêmeas", ele notou. Voltando-se para ela, ele reparou o olhar em seu rosto, Lancelot desejou por um breve segundo, que ele pudesse rir.
Roxanne estava pensativa. Na verdade, ela pensava que elas também eram irmãs gêmeas.
"Sério mesmo?"
"Absolutamente".
Ela continuou duvidando dele, e ele percebeu a forma como seus olhos se estreitaram para ele.
Esse ato o lembrou da sua mãe, Madeline Dankworth.
Ele percebeu a maneira como Roxanne o encarava. Os olhos de Madeline eram capazes de farejar mentiras de qualquer pessoa, tanto de humanos quanto de lobos.
E isso era uma das coisas que mantinham sua alcateia forte, temida, engenhosa. Enquanto seu pai era a força física e o pilar da alcateia, sua mãe ficava ao lado dele e ela era como a caixa cerebral e a casa de força de toda a alcateia.
Madeline tomava as decisões, Edward as estabeleciam.
"Não te machuca? A traição?", Lancelot perguntou.
Por um breve segundo, houve um lampejo de dor em seus olhos. E de repente, aquele olhar se foi e foi substituído por um sorriso trançado e genuíno.
Lancelot se perguntou se havia imaginado o brilho nos olhos dela.
Ou isso, ou ela era uma ótima atriz. De qualquer forma, Lancelot estava muito interessado em sua história.
Roxanne suspirou fundo. Ela já tinha pensado tanto na dor que não sentia mais nada agora. Embora ela temesse que, se visse Jonah dizer as palavras que ela estava esperando para ouvir ele dizer por mais da metade da sua vida, para sua irmã, ela poderia não aguentar.
Era por esse motivo que ela tinha insistido para chegar ao casamento muito mais tarde.
Ela ia conseguir sobreviver à festa de casamento à noite, mas certamente não iria sobreviver à troca de votos e alianças.
"Se dói? Rapaz, eu chorei tanto que minhas glândulas lacrimais estão inchadas até agora. Não posso continuar fazendo isso. Quero dizer, é a vida. A destruição da camada de ozônio está aí pra se preocupar, não posso continuar pensando sobre o que não posso mudar".
Simples. Corajoso. Perdoar. Lancelot tomou nota. Três coisas que ele estava a anos-luz de ser. Ele estava vendo a maneira como ela rapidamente se afastava dele.
'Segure a mão dela, ela precisa de você', ele ouviu Ziko choramingar. Lentamente, ele estendeu a mão para cobrir a dela. No ar, ele a puxou de volta.
"Isso tá acontecendo muito rápido", ele murmurou.
"Você disse alguma coisa?", ela se virou para ele e perguntou.
Abrindo a boca para falar, o motorista falou.
"Moça, chegamos a catedral".
"Ótimo, levamos tempo suficiente", Roxanne falou.
Lancelot percebeu a maneira como os punhos dela se fechavam com força nas coxas.
Ele olhou para ela mais uma vez. As veias em seus braços, vincos em sua testa, gotas de suor que se acumulavam, mas não desciam.
Ela estava ferida. Não importava o quanto ela tentasse esconder, ela sentiu muita dor por dentro.
E ele sabia, sabia porque também era uma vítima do mundo.