Capítulo 9
1362palavras
2023-02-12 03:38
Naquele dia ele tinha acabado de voltar de uma viagem ao exterior, tentando encontrar algo diferente para a empresa.
Uma ideia nova, um jeito moderno e diferente de trabalhar.
Algo que não fosse exatamente igual as ideias de seu falecido pai porque isso sempre o fazia lembrar dele, e do fato de que não estava mais ali com eles para realizar o sonho de fazer aquela empresa crescer ao lado dos dois filhos Stephan e Pete.

O maior sonho de seu pai era trabalhar ao lado dos filhos.
E isso jamais aconteceria.
Ele não se lembrava bem da piada que havia feito.
Mas soube que ela não levara na esportiva no instante em que o sorriso de boas-vindas em seus lábios foi substituído por apenas um leve entortar de lábios antes que desaparecesse por completo. Assim como a gentileza em seu olhar havia sido substituída pela frieza com a qual ela sempre o recebia desde então.
Ele sempre havia sido brincalhão com todos na empresa. Não gostava de tratar as pessoas de maneira diferente por sua classe social, ou por serem subordinados.
Mas pelo visto tocara em alguma ferida daquela moça, pois ela logo passara a evitá-lo como a uma praga nos dias e meses que se seguiram antes de Stephan ter que se ausentar novamente.

Pete se aproveitava disso para zombar dele, pois afinal ele encontrara a única mulher na terra que não se derretia por ele.
Claro que ele exagerara nessa parte.
O que ele podia fazer se era sempre tão gentil e atencioso com todas elas a ponto de deixá-las assim?
Seus pais o criaram para ser educado e charmoso.

E quando ele se interessava por alguém ele sabia muito bem usar de todo o charme de que dispunha.
Sua mãe e seu irmão Pete odiavam isso, mas seu pai costumava se divertir muito...
Deixando as divagações de lado, ele abraçou Lauren para sustentar o peso de seu corpo diminuto contra o dele antes dela se virar e enterrar a face em seu peito.
Ela precisava chorar.
Ele sabia disso.
E por mais que odiasse lágrimas, ele não a deixaria sozinha em um momento tão difícil quanto aquele.
Era o que ele deveria ter feito por sua mãe quando seu pai falecera, mas acabara deixando aquela tarefa difícil para seu irmão Pete e fora afogar sua dor da maneira que ele sabia que funcionaria bem.
Mas por algum motivo ele não conseguia fazer o mesmo com Lauren...
Pelo visto ela não tinha mais ninguém...
_ Por favor, isso tem que ser um pesadelo! _ ela murmurou contra seu peito enquanto ele lhe afagava os cabelos sem perceber.
O que ele poderia dizer? Pensou confuso, sem saber o que fazer para acalentar sua dor.
Ele bem sabia que nada do que fizesse ajudaria.
Ele a deixou chorar pelo tempo que precisou, abraçando-a apertado contra o peito e esfregando -lhe as costas até que ficou tão cansada que já não chorava mais, soltando apenas pequenos lamentos.
_ O que vou fazer agora? _ ela murmurou, mas ele sabia que ela não se dirigia a ele, e sim a si mesma. _ E quanto a Sophia?
_ Ei, ela tem a você! _ ele disse e só então que ela aparentou perceber que estava abraçada a ele e chorando em seus braços.
Como uma pessoa conseguia passar da expressão de dor ao horror era uma coisa que ele ainda descobriria, mas foi exatamente isso que ela fez antes de se afastar dele, pigarreando.
_ Desculpe por isso. _ ela pediu enquanto se afastava e secava a face molhada, esfregando o nariz com as costas as mãos de uma maneira deselegante, em nada parecida com as mulheres com quem estava acostumado a sair.
Mas era até bonitinho...
Surpreso e incomodado com sua linha de pensamentos, Stephan lhe deu um meio sorriso antes de enfiar as mãos nos bolsos da calça.
_ Não se preocupe com isso. _ ele afirmou e logo ela notou a mancha molhada na camisa branca dele. Ao olhar para baixo e perceber o que ela olhava, ele tratou de sorrir gentilmente e continuar: _Sophia ainda tem a você. _ finalizou.
Isso pareceu distraí-la do estrago em sua camisa.
_Sophia é pequena... Como explicarei que sua mãe... _ sua voz foi se apagando a medida que ela voltava a olhar para dentro da sala do necrotério.
O funcionário já voltara a cobrir o corpo novamente, mas ele imaginava que isso não adiantava muito mais.
A memória de sua irmã deitada sem vida naquela mesa a seguiria por toda a vida a partir de agora, ele pensou pousando as mãos em seus ombros e fazendo-a voltar-se para ele novamente.
_ Você encontrará uma maneira de contar a ela com o tempo. _ ele sugeriu. _ Não precisa ser hoje, ou amanhã...
Lauren ainda tinha uma expressão preocupada e quando ia voltar a olhar para dentro da sala onde sua irmã estava, Stephan virou seu rosto para ele novamente.
_Apenas quando se sentir preparada, ok! _ ele disse e ela assentiu depois de um momento, uma nova lágrima rolando de seus olhos.
Isso fez com que Stephan se sentisse inútil pela primeira segunda vez na vida.
O médico se aproximou deles ao perceber que Lauren já estava mais controlada. Ele quisera dar um tempo a sós para eles antes de voltar a tocar na ferida.
_ Srta. Hawking, _ ele chamou, fazendo com que os dois se voltassem para ele. _ Toda a documentação já foi providenciada e espera por sua assinatura...
Ele foi explicando algo sobre funerárias que ele sabia que Lauren não estava prestando atenção dada a sua expressão. Ela acabara de saber que sua irmã havia falecido e já precisava resolver tudo sobre o sepultamento...
_ Vamos lá pra cima e resolveremos tudo isso. _ ele pediu, guiando-a novamente para a entrada do setor de emergência do hospital.
Durante os próximos minutos Lauren se viu bombardeada de informações sobre funerárias e procedimentos de sepultamento.
Mas a todo instante ela se torturava, reconhecendo que não seria capaz nem mesmo de dar um sepultamento decente para a irmã já que não possuía nenhum dinheiro guardado.
Naquele instante Pete e sua noiva chegaram, pegando-a completamente de surpresa.
Como souberam...?
E então lançou um olhar a Stephan, que apenas deu de ombros.
Claro, ele já perdera grande parte de sua noite com ela...
_ Deixe tudo isso conosco. _ Pete ordenou lançando um olhar agradecido a Stephan, que tornou a olhar para Lauren novamente. _ Pode ir para casa...
_ Não! _ Stephan respondeu, para a surpresa de todos, inclusive a de Lauren.
Ele não estava ansioso para ir embora? Perguntou-se, confusa.
_ Resolvam as coisas por aqui, enquanto levo Lauren para casa. _ ele pediu ao irmão e a cunhada, que assentiram de pronto.
Lauren demorou um pouco para compreender o significado de suas palavras, e ao fazê-lo ela negou veemente.
_ Eu não vou para casa! _ protestou. _ Preciso ficar e resolver tudo. Vocês podem ir... _ ela sugeriu tentando dar um passo à frente, para longe deles, mas Stephan a segurou pelo antebraço impedindo que se afastasse.
_ De jeito nenhum! _ ele respondeu. _ Temos um plano funerário na empresa e Pete pode resolver isso em um piscar de olhos. _ ele respondeu, pensando se usara as palavras corretas para descrever a situação.
Resolver tudo significava ter o poder de voltar no tempo e impedir que Giulia sofresse aquele acidente ou até mesmo a trouxessem de volta a vida.
Mas todo o poder que ele e seu irmão dispunham era o de facilitar de maneira financeira a vida de Lauren, já que ele percebera a expressão de pânico em seu rosto a medida que a funcionária do hospital lhe passava informações a respeito de funerárias e sepultamentos.
_ Eu não quero dar nenhum trabalho ou prejuízo a empresa..._ ela tentou, mas novamente ele a interrompeu:
_ Vamos sair daqui! _ ele ordenou pegando-a pelo braço. _ Você precisa ir para casa tomar um banho e comer alguma coisa. O médico disse que está desnutrida e desidratada. Você precisa ficar saudável e forte para tomar conta de Sophia agora.