Capítulo 59
1073palavras
2023-03-31 09:58
Bianca ouviu tudo em estado de choque. Quando Thales guardou o celular, olhou pra ela e disse:
- Você sabe que faz parte do plano, né? Ele precisava justificar te roubar depois de dez anos. E ele vai te devolver depois que tudo acabar, não é?
- Sei. Claro que sei.

- Então porque está com essa cara?
- Esse homem sempre me amou. Você viu como ele é esperto e pensou muito rápido? Faz uma semana que ele sabe do calvário que estamos vivendo a meses e está resolvendo tudo...
- Onde você quer chegar?
- Se tivesse me casado com ele. Se tivesse voltado quando meu pai morreu. Eu estaria na metade da gravidez. Ele teria cuidado de mim, talvez eu não tivesse perdido o útero. Ele saberia cuidar de mim e esse mafioso dos infernos não teria a coragem de armar toda essa sordidez contra mim e a minha família. O que eu fiz da minha vida?
Bianca ameaçou cair no choro de novo, mas Thales a impediu.
- Se acalme, pare de melancolia. Você ainda precisa ser forte. Por mais hoje. Depois, quando Gustavo devolver seu dinheiro, vocês conversam e se entendem

- Você não percebe, Thales? Ele colocou a filha dele em grande perigo por minha causa. E logo depois, ouviu tudo o que eu fiz...
- Calma, tudo vai...
- Puta que pariu, não chega não? Preciso chegar nesse casamento logo, inferno.
- Para de praguejar, Bianca. Não deve atrair coisas boas. E precisamos de boas energias agora...

- Boas energias o carälho. Gustavo tirou o alvo das minhas costas e colocou na Aisha. Precisamos chegar lá logo antes que Enzo mate a menina.
- Aisha está blindada, Bianca. Gustavo tem um plano B e um plano C se tudo der errado.
Bianca ficou calada, viu Jonas estacionar no heliporto e dois helicópteros prontos para levá-la para seu casamento. Viu o piloto oficial ser paramentado com o paraquedas que utilizaria se precisasse ejetar. Recebeu o fone de ouvido para se comunicar e de sua aeronave, falou para o piloto voar com Deus. Agradeceu pelo risco que ele estava correndo por ela.
Quando entrou no helicóptero, fez uma prece de qualquer jeito, pedindo a Deus que protegesse cada pessoa que estava sendo ameaçada para que ela e sua família sobrevivessem. E pensou que eram muitas!
Nunca foi religiosa e nunca pediu nada a Deus. Nem sabia como fazer, mas desejou ter uma corrente cheia de bolinhas daquelas que a mãe tinha e ficava conversando aos sussurros com ela.
Enquanto voavam, Bianca foi se lembrando que a mãe tinha costume de pegar aquela corrente. As vezes ela ficava observando a mãe falando bem baixinho, só mexendo os lábios, passando as bolinhas de um lado pro outro de olhos fechados.
Uma vez perguntou porque a mãe fazia aquilo com a corrente de bolinhas na mão. Se forçou a lembrar a resposta da mãe. Aquilo não era uma corrente de bolinhas, era um tervo? terco? Terno? Não, terço. Bianca se lembrou porque associou na época "terça" parte. Esse era um truque que ela usou até a faculdade para aprender as coisas. Associar a algo mais fácil e assim não se esquecia. Sim, associou "terço" a terça parte e a mãe disse que era pra rezar. Quando começou a explicar, Bianca perdeu o interesse.
Mas naquela viagem de 25 minutos, queria ter um terço nas mãos pra rezar de qualquer jeito. Talvez Deus a ouvisse, talvez qualquer entidade espiritual que a mãe jurava que ouvia, e Bianca não sabia como, pois ela falava tão baixinho que nem ela do lado da mãe conseguia ouvir, pudesse ouvi-la agora.
Se lembrou que a mãe disse que só precisava pensar que Deus ouvia. Bianca sempre foi cética como o pai. Só acreditava no que podia tocar, sentir, ver ou ouvir. Mas naquele momento, fez o mínimo que a mãe lhe ensinou. Colocou toda a emoção de seu coração no pensamento, pedindo pra sei lá quem, usar seu poder pra proteger sua mãe e Gabriel, sua família que tinha o coração puro e estavam em risco apenas por ser sua família. Aisha, a filha que ela adotou no coração e que agora "ganhou" todos os seus bens e um alvo nas costas. Gustavo que se envolveu em tudo apenas para ajudá-la, mesmo sem ela merecer. Seus amigos que compunham o circo da cerimônia, se arriscando a tomar uma bala perdida se as coisas esquentassem. O piloto que se demorasse um segundo pra ejetar, iria explodir com seu helicóptero...
Mas avistou a cidade lá embaixo e sabia que o show ia começar. Não sabia que tinha que terminar sua prece com um "amém". Apenas parou de pensar "com o coração", pois se sentiu mais tranquila por não ter sido explodida. Ficou olhando ansiosa pra ver o local que deveria pousar, mas a voz do piloto da outra aeronave soou no seu ouvido:
-Ejetando...
Bianca não sabe quanto tempo ficou olhando para Thales em agonia, mas lhe pareceu uma eternidade, e logo a voz dele desesperada novamente.
- Paraquedas abriu normalmente, mas pedaços da aeronave estão vindo em grande velocidade. Graças a Deus tiveram a consciência de fazer sobre a estrada. - Mais silêncio e Bianca pode ver a casa de Lorenzo lá embaixo. O extenso gramado com o alvo e pôde sentir o helicóptero descendo, mas estava atenta demais ao seu fone de ouvido para se lembrar que era sua parte do plano que entrava em vigor.
- Pousando - Bianca ouviu o piloto falando e parecia passos correndo no chão fofo. - Estou em segurança. Localização enviada.
Bianca voltou a respirar e viu a boca de Thales se mexendo, mas não o que ele disse. Percebeu que tinham pousado, e que o plano estava correndo maravilhosamente bem, já que um Lorenzo uns 30 anos mais velho estava vindo em direção ao helicóptero.
Gustavo previu e Lorenzo confirmou que Enzo se apresentaria antes do combinado, com a desculpa de levá-la ao altar. Bianca se lembrou que na hora, achou ridículo. Enzo não era do tipo que fizesse nada fora do planejado. E dar a cara assim, se expondo antes da hora era muito fora da casinha.
Agora entendeu tudo. Quando ele descobriu que Bianca tinha sido roubada, pouco antes da cerimônia, tinha que mudar seus planos.
Bianca só não entendeu porque ele explodiu o helicóptero mesmo assim, se a morte dela não fazia mais sentido para ele...