Gustavo foi dançar com a filha muito emocionado. Sabia que Bianca tinha razão. Muitas meninas da idade dela, principalmente as que vinham da extrema pobreza como ela, engravidavam, se envolviam em crimes, usavam drogas.
Mariane era prova disso. Criada no mesmo lugar, com as mesmas condições de Aisha. Gustavo já queria dar uma vida melhor para a filha, depois que Mariane morreu, se prometeu que nada atrapalharia de ele chegar no topo e impedir que Aisha virasse estatística.
Mas nem nos seus melhores sonhos, imaginava algo assim para a menina. Formada do ensino fundamental nos Estados Unidos, já tinha um imóvel em seu nome, uma carro que era seu, por estar no nome da tutora e só até o próximo ano. Quando ela fizesse 16, ia emancipa-la e ela poderia viver a vida através de suas regras.
E apesar de ter a língua afiada e parecer não dar bola pra nada, Gustavo sabia que Aisha tinha a cabeça no lugar, e ouvi-la contando seu projeto de vida pra Bianca, o encheu ainda mais de orgulho.
Sabia que seu futuro com Bianca era indefinido, mas mesmo que não ficassem juntos, Bianca tinha um senso de responsabilidade com Aisha de mãe, e cuidaria para que o futuro que a menina planejou se concretizasse.
Gustavo riu. Bianca dizia que não queria ser mãe, que não levava o menor jeito pra isso, que não sabia criar uma criança.E ela nem percebia o quanto leoa ela era, que o que fazia por Aisha, mesmo com ar de indiferença, como se não tivesse ligando, era muito mais do que Sirlene nunca fez nem por Aisha, nem por Mariane.
Que a decisão de ficar longe do filho, sob a alegação de que não sabia o que fazer e não se importava, era coisa de mãe protetora que sabia que a avó estaria mais preparada, e que ela não estava psicologicamente bem pra cuidar de outro ser.
Até com Enrico, Bianca era uma leoa e Gustavo via ali uma super mãe, que com os três "filhos" que ela não queria e lhe caíram no colo, ela tinha uma relação de cuidado, respeito, amizade e parceria. Não era a toa que Aisha e Enrico se sentiam tão bem com ela, e Gabriel a idolatrava, mesmo tendo visto ela pouco nos primeiros anos de vida.
Ele sabia que ela estava com um algum problema gigante. Muito maior do que a investigação que deveria estar prestes a terminar. Mas ela não queria entrar no assunto e ele respeitou até a formatura.
Tinha planejado dar o bote nela essa noite. No hotel, longe de qualquer coisa, ela lhe contaria tudo o que estava escondendo. Ela lhe disse na primeira noite que ia contar tudo no avião, voltando pra casa. Mas ele não suportaria vê-la mais 6 dias se obrigando a ligar pro noivo.
Ela estava feliz com ele. Estavam vivendo bem e a única coisa que faltava era o Gabriel. Iria propor a ela resolver o que quer que fosse juntos, deixar as empresas dela sob os cuidados de Emily e Lorenzo e irem viver essa vida linda nos Estados Unidos, perto de Aisha.
Mas antes ela teria que lhe contar qual era o problema e porque ela se forçava a manter um noivado e sempre dizer "depois do casamento". Ele não acreditava que depois de passar uma noite de amor com ele, ela ainda pensava em se casar com Lorenzo.
A dança acabou, o baile começou. Os dois beijaram e abraçaram Aisha, deram conselhos e foram embora.
A caminho do hotel, Bianca comentou:
- Você deveria ter me contado que preparou essa surpresa para eu me preparar também. Não trouxe nem uma roupa pra me trocar.
- Não se preocupe. Trouxe sua nécessaire e pedi pra Helena colocar um robe, um pijama e uma roupa pra vc sair do hotel amanhã.
- Nossa, você pensou em tudo...
Entraram no hotel e foram para o quarto de Gustavo. Bianca pegou sua nécessaire, abriu e tirou lenços de remoção de maquiagem. Enquanto ela tirava a maquiagem, Gustavo enchia a banheira. Depois ele a despiu e entrou na banheira, colocando ela sentada de costas pra ele.
- Huummmm. É tão bom estar assim com você...
- Vou fazer amor com você essa noite até você ficar molinha - ele falou em seu ouvido, provocando arrepios. - Mas só depois de você me contar tudo o que está me escondendo.
Bianca ficou tensa na mesma hora, não sabia como fugir daquilo. Precisava só de mais um dia, se Gustavo soubesse de tudo, não viajaria com a filha e estragaria as férias perfeitas dele.
Se virou, tateando por debaixo da água procurando pelo pênis dele, que afastou suas mãos e a descolou do corpo dele, virando-a de frente pra ele.
- Não. Não pense que não percebi você me cansando de dia e de noite todo esse tempo pra não falarmos no assunto. Deixei você esperar até a formatura e não estragar o momento da Aisha, mas acabou. Você vai me contar tudo agora.
- Gustavo, ainda não acabou o momento da Aisha. Ainda tem a viagem. E nós estamos tão felizes! Porque acabar com tudo antes do tempo? É só o que eu te peço. Mais uma semana na nossa bolha, depois quando tivermos voltando, te conto tudo, prometo.
- Mais uma semana, Bianca? Mais 6 dias vendo você largar dos meus beiços e se afastar de cara feia para ligar pro seu noivo fingindo que está tudo bem, tudo normal? Contando seus dias pra ele, omitindo o sexo selvagem que fez comigo?
- Sim, é tudo o que te peço. Se eu te contar agora, você não vai viajar.
- Bianca, só tenho uma pergunta a te fazer. Se eu te dar os seis dias que está me pedindo, quando você resolver me contar, o problema vai ser tão simples que não vai me fazer sentir um lixo pelos seus dias maravilhosos que passei com você sem saber dele?
Bianca entendeu o que ele quis dizer. Quando lhe contasse tudo, ele se sentiria sujo por tudo o que viveram até ali, relaxados enquanto toda sua família corria o risco de ser exterminada.
- Lorenzo nunca vai me tocar porque é meu primo de primeiro grau.
- O que?
- Vou te mostrar, porque é melhor do que falar. Mas você tem que me prometer que vai seguir com o plano, com a viagem, com a minha semana de paz.
Bianca saiu da banheira colocou o roupão e sinalizou pra ele fazer o mesmo.
Foi pro quarto com sua nécessaire, seguida por Gustavo de roupão. Abriu um fundo falso na nécessaire sobre o olhar espantado de Gustavo e tirou o envelope pardo de dentro.
- Na noite que dormimos juntos sem fazer nada, entendi que você é o amor de minha vida e estava disposta a nos dar uma chance. Quando acordei você teve a ideia de procurar no cofre, e eu mal entrava no quarto dos meus pais, tamanha era a emoção que sentia pela morte dele. Mas achei sua idéia muito boa, e quando abri o cofre, encontrei isso. Leia e você vai entender tudo.
Gustavo pegou o envelope aberto, leu os dizeres e olhou pra ela.
- Tem certeza que quer que eu leia?
- Vai explicar muita coisa pra você, assim como pra mim. Você vai entender que estamos num perigo iminente e o que não tiver escrito aí, te conto depois
Gustavo abriu com os dedos trêmulos, e começou a ler, se espantando logo de cara