Rose
Antônio saiu levando meus sentidos todos com ele, eu já nem me reconhecia mais, parecia que eu queria orbitar a sua volta e essa não era eu. Eu tinha que parar de criar essa necessidade de estar sempre perto dele, querendo seu contato e seus olhos nos meus. Tudo isso por causa de uma pequena fagulha de sentimento.
Otávio brincava com meu cabelo enquanto eu ficava perdida em pensamentos, aquele pequeno tinha me trazido a uma situação que eu pensei ser impossível?
— Rose? — Bianca me chamou tirando-me de um estado de transe — O que devo fazer para a condessa almoçar?
— Faça o que achar melhor, Bianca, você sabe melhor do que eu que a condessa ama tudo o que fazem.
— Ah não é assim também — foi modesta.
— Sabemos que é assim sim — sorri. — Vou até o quarto de Otávio dar uma geral, esse pequeno está perdendo tantas roupas que acho que logo teremos que comprar uma montanha de roupas novas.
— Ele está crescendo rápido mesmo — sorri para o pequenino — E cada dia que passa fica mais parecido com o pai.
— Fica mesmo — seus olhinhos pretos me analisavam — Espero que a personalidade não flua agora também, um rabugento só já é suficiente. — Rimos juntas.
— Deixa ele te ouvir falando isso. — Revirei os olhos.
—Então vamos parar de falar. — Ela concordou — Faça o que achar melhor, querida, não se preocupe em ser muito extravagante, a condessa gosta das coisas simples e adora seus temperos, sabe disso.
— Pode deixar, irei preparar o melhor almoço que ela já comeu na vida. — sorriu radiante.
— Obrigada.
Subi as escadas e fui direto para o quarto de Antônio, como não tinha ninguém para fazer a sua cama, imaginei que o quarto estaria uma bagunça, porém assim que entrei encontrei tudo arrumado. Não impecável, mas arrumado da forma dele.
Alisei a colcha que estava um pouco torta e a coloquei no lugar, abria as cortinas para que o ar corresse pelo quarto e anotei mentalmente para mais tarde trazer o jarro de água que ele gostava de manter no quarto.
O cheiro dele estava por todo lugar me fazendo querer ficar ali por muito mais tempo do que eu precisava. Otávio engatinhava de um lado para o outro dentro do quarto me fazendo rir com suas gracinhas.
— Vem pequeno, agora é a vez de arrumar o seu. — O peguei pelas mãozinhas e ele foi tentando andar até seu quarto.
Eu realmente precisava dar uma geral no quarto de Otávio, mas eu queria achar o diário da falecida. Antônio merecia ter paz de espírito. Merecia ser feliz, mesmo que se num futuro não fosse comigo.
— Será que sua mamãe guardou aqui o diário?
—Mamama — Otávio falou e me assustei.
— Fala de novo, amor. Mamãe. — Repeti.
— Mamama — explodi de felicidade.
— Isso querido, mamãe. — O abracei feliz com suas primeiras palavrinhas. Mesmo que eu quisesse que fossem destinadas a mim.
Me sentei no chão e comecei a incentivá-lo a falar outras palavras, principalmente papai, mas ele sempre voltava na mamãe e resolvi não forçar muito, para ele não se irritar. Coloquei alguns brinquedos ao seu redor e comecei a mexer nas gavetas de Otávio, procurando o tal diário e já tirando o que não servia mais.
Passe algumas horas fazendo isso sem nem me dar conta de quanto tempo estava passando. O bebê acabou cochilando no processo me dando ainda mais tempo para fazer o que era preciso. Revirei cada parte do seu guarda-roupas e cômoda, tirando as roupinhas que já não cabiam mais, retirei alguns calçados e um cobertas que estavam guardadas desde quando eu comece a trabalhar na casa. Na verdade Otávio tinha tanta roupa sem usar que me deixava desesperada. Com certeza eu teria que ver com Antônio se poderíamos doar um pouco para alguma criança que precisasse.
— Posso entrar? — ouvi as batidas na porta e já corri para receber dona Arlete.
— Claro, senhora, por favor — abri a porta recebendo um abraço caloroso da mãe de Antônio. — Como a senhora está?
— Muito bem, minha menina. Meu neto está dormindo? — ela percebeu pelo silêncio.
— Está sim, acabou de dormir, mas já, já vou acordá-lo para almoçar.
—Ah que pena, mas como eu pretendo passar a tarde toda com vocês, vou poder ficar muito com ele ainda.
— Nós vamos adorar — seu sorriso sempre me acalmava. Eu a considerava minha segunda mãe. Foi ela que esteve presente para mim e para minhas irmãs quando tudo desabou e eu não podia negar nada aquela senhora.
— Estou vendo que aproveitou para fazer uma limpeza nas roupinhas dele.
— Sim, Otávio está crescendo rápido demais, não está mais cabendo em mais nada — sorri.
—Com alguém cuidando tão bem dele, não tem como não ser saudável.
— Não é para tanto — falei a levando para perto do berço, para olhar o pequeno. — Ele é igual ao pai, se faz entender rapidinho.
— Antônio sempre foi o mais sério e genioso dos meus meninos. Sempre queria cuidar de tudo e de todos. Não me admira que esteja tão estressado ultimamente.
— Por que diz isso?
— André — a olhei sem entender, ele nunca comentou sobre o irmão — André é o mais fechado e está com problemas. Antônio fica agoniado de não conseguir ajudá-lo. Ele se sente na obrigação de cuidar dos mais novos, como se não tivesse uma vida toda para cuidar.
— Ele não comentou nada comigo — os olhinhos da senhora brilharam e percebi o que tinha falado. — Às vezes a gente conversa quando ele precisa desabafar. — Tentei remediar minha gafe.
— Imagino que sim. E isso para mim é um feito e tanto, já que ele nunca gostou de conversar com ninguém, nem mesmo com Margareth. Que Deus a tenha.
— Às vezes ele está mais disposto a falar, as vezes não. É sempre uma incógnita. — Me afastei do berço e ela me seguiu.
— Antônio tem medo de que as pessoas vejam seu lado vulnerável, ele sempre quer ser o mais forte, o mais justo, mas nós duas sabemos que nem sempre isso é possível e ele sofre. Se ele está desabafando com você e eu fico feliz, pois sei que assim ele não irá surtar.
— Não consigo imaginar Antônio surtando.
— Aconteceu uma única vez quando ele e os irmãos era pequenos, Álvaro sempre foi muito arteiro, ainda mais por conta da diferença de idade entre os dois. Um dia Álvaro foi para a escola e sumiu. O motorista foi buscá-lo e ele não estava na escola. Eu e Henrique ficamos desesperados, mas Antônio surtou, ele pegou um dos motoristas e foi a todos os bairros da cidade, revirou cada beco, fez um estardalhaço na cidade, até achar o moleque jogando bola em um campinho clandestino. — Comecei a gargalhar com as peripécias do meu cunhado. Com certeza era a cara dele fazer algo desse tipo.
— Álvaro é terrível.
— Hoje ele é um anjo, Emma domou a fera. — Gargalhei.
— Ainda bem. Se bem que as vezes tenho minhas dúvidas — ela sorriu e me segurei para não acordar o bebê.
— Quem sabe você não faz o mesmo com Antônio — ela piscou para mim me deixando sem ação.
— Senhora...
— Não diga nada Rose, eu não quero me meter na vida de vocês, eu só espero que vocês não deixem passar essa oportunidade que o destino está dando a vocês. — Fiquei sem reação. — Mas agora me conte o que aconteceu ontem. Vejo que seu rosto tem algumas marcas, Antônio me contou por cima, mas não quis entrar muito em detalhes.
Saímos do quarto e fomos até a sala, enquanto o almoço não ficava pronto. Expliquei tudo que tinha acontecido e dona Arlete ficou revoltada com a situação.
— Margareth sempre foi geniosa, que Deus me perdoe, mas nunca achei que ela era mulher para meu filho. Como pode fazer uma coisa dessas, instruir uma menina que não tinha capacidade nenhuma para discernir o que era ser governanta e ser a dona da casa. Ela foi muito irresponsável e olha só o que aconteceu. Poderia ter sido pior se você não estivesse aqui, menina. Imagina o que poderia ter acontecido com Otávio com uma pessoa tão irresponsável quanto ela.
— Bom, agora estamos aqui sem governanta e sem arrumadeira. Falei para Antônio que apenas uma é suficiente, não precisamos de mais. — falei mudando de assunto. Lady Dion estava com os nervos a flor da pele e não queria colocar ainda mais lenha na fogueira.
— Você não pode se sobrecarregar, cuidar de Otávio já é um trabalho bem grande.
— Eu não estou, senhora. Ele é bonzinho, só me dá alegria.
— Obrigada por cuidar tão bem dos meus meninos, eu fiquei muito assustada quando tudo aconteceu, mas depois que você veio para cá, eu sabia que tudo ficaria bem. — Ela segurou minha mão.
— Eu não poderia ficar indiferente a eles.
Conversamos por um tempo e ela me disse que tinha algumas moças em mente que poderiam assumir o cargo. Eu disse o que seria ideal em alguém e que poderíamos fazer um teste antes de contratar, o que ela achou mais viável.
Luana nos chamou para o almoço e comemos tranquilas ainda conversando. Assim que terminamos, fui acordar Otávio e deixei que a vó desse sua papinha, o que fez os dois ficarem ainda mais próximos. Durante a tarde, ficamos no jardim deixando o pequeno engatinhar por todo lado e se aventurar com as descobertas. Dona Arlete amou cada detalhe e me elogiava o tempo todo. Para ela aquilo sim era criar uma criança, deixando com que ela descobrisse o mundo por conta própria.
— Foi uma das melhores tardes que já tive, menina — ela me abraçou se despedindo. — Espero poder ter outras mais.
— Com certeza, venha sempre que quiser. Sinto falta de conversar com a senhora. — Ela me abraçou de novo. Otávio ficara na cozinha batendo nas panelas de Luana, deixando a menina doida.
— Vou vir sim, até você se sentir enjoada de me ver.
— Isso nunca vai acontecer. — Sorrimos uma para a outra.
— Boa tarde, senhoras — Antônio acabará de chegar e parou ao lado da mãe. — Já está indo?
— Sim, tenho que dar um pouco de atenção para seu pai, se não já viu — ela sorriu o abraçando de lado. — Estou dizendo a Rose que virei sempre passar a tarde com eles, essa menina é uma joia meu filho.
— Eu sei mamãe. — Ele me olhou desejoso e senti as borboletas do meu estomago se agitarem.
— Cuidem-se crianças, amanhã eu peço para a moça vir conversar com vocês.
— Tudo bem, senhora — sorri e Antônio levou a mãe até o carro e voltou parando a minha frente. Ele fechou a porta e me puxou para seus braços onde eu queria muito estar.
— Como foi seu dia? — ele escondeu seu rosto em meu pescoço roçando seu nariz no mesmo.
— Maravilhoso — falei com a voz baixa. Meus braços rodavam o seu pescoço e eu queria ficar ali para sempre.
— Mesmo sem mim? — ele se afastou para me olhar com um sorrisinho nos lábios.
— Pensei em você durante o dia todo, sua mãe não me deixaria esquecer. — seu olhar convencido pousou sobre minha boca.
— Ela te quer como nora, sabe disso, não é?
— Estou começando a ter essa noção.
— E ela nunca erra — sua mão subiu por minha nuca e se emaranhou em meus cabelos — Como está sua boca?
— Melhor — mordi o lábio encarando a boca dele.
— Então não ficará brava se eu tentar matar o desespero que está dentro de mim — ele se aproximou passando seu nariz por meu rosto. — Eu senti saudades de você o dia todo.
— Eu também... — sua boca resvalou na minha antes de se fixar. Minhas pernas ficaram bambas e me segurei ainda mais nele, que correu sua língua por todo meu lábio me fazendo suspirar. Seus dentes roçaram meus lábios os puxando gentilmente.
— Eu estou louco por você. — Abri meus olhos e vi as esferas negras me encarando com puro desejo. Sua boca voltou a minha agora pedindo passagem e sua língua invadiu minha, acariciando-a, me trazendo reações que eu nunca pensei em ter. Eu não queria mais sair de dentro daquela névoa de sentimentos. Sua mão apertava meus cabelos me deixando mais próxima a ele, a mão que sustentava meu corpo também não se cansava de apertar minha cintura, me deixando em êxtase. Tudo era intenso demais, delicioso de uma forma que nunca pensei. Era o fim, eu nunca mais conseguiria ver outro homem da mesma forma.
Antônio conseguiu me deixar louca e irreversivelmente apaixonada por ele!