Capítulo 23
1591palavras
2023-04-11 08:20
Antônio
Os próximos momentos passaram como um sonho, ela se aproximou e nos abraçou. Sua alma pura se conectou a minha e a de Otávio, ela estava ali para nós, queria aquela família para ela, eu pude sentir e nunca teria como recusar aquilo. Eu simplesmente não conseguia não a ter por perto.
— Antônio, eu quero te conhecer melhor, mas não quero ser sua segunda opção, nem sua amante, nem nada desse tipo — ela falou séria com as lágrimas querendo transbordar a barreira dos seus olhos.

— Eu nunca te pediria isso. Você nasceu para ser minha esposa, Rose! Nada menos do que isso. — Os olhos dela brilharam. — Eu te prometo que vou fazer o máximo para que nosso relacionamento chegue nesse nível.
— Eu também. — Ela ficou na ponta dos pés e beijou meu rosto, mesmo eu querendo que fosse minha boca. Aquele corte não estava no lugar certo. — Acho que agora vou levar Otávio para o quarto.
— Mas já? — era engraçado como eu não queria mais me separar dela. — Leve ele lá e volte para ficar comigo. — falei sem pensar nas consequências.
— Não posso Antônio, não ainda — ela pegou Otávio. Seus olhos estavam me avaliando.
— Me desculpe, eu sei que não é certo — a abracei novamente antes de soltar e dei um beijo em sua testa e na cabecinha do meu filho. — Eu vou com você até lá. — Ela confirmou e saiu na minha frente e a segui.
Ela entrou no quarto e foi até o berço e deitou o pequeno. Observei o ritual, ela deu um beijo nele e fez uma oração sobre ele. Eu achei incrível a forma que ela lidava, era algo que não estava sendo observado por mim e agora eu sentia que precisava estar mais presente. Ser mais o pai que Otávio esperava.

Rose se afastou e deixou que eu tivesse o meu momento com ele. Vi como Deus tinha sido perfeito em cada detalhe, mesmo eu estando fora de foco ele preparou cada detalhe para que meu filho fosse perfeito e tivesse pessoas boas ao seu redor. Acariciei seus cabelos e agradeci mentalmente por tudo que eu tenho. Agradeci pela saúde dele e pela de Rose e acima de tudo agradeci a Margareth por ter me deixado a pessoa mais importante da minha vida.
Quando me virei Rose estava do lado de fora do quarto aguardando, como se ela pudesse me incomodar de alguma forma.
— Não precisava ter saído — falei a puxando novamente para meus braços. Era ali que ela tinha que ficar. Colada a mim.
— Achei que precisava daquele momento.

— Você que me fez perceber o que eu estava perdendo. Faz parte disso.
— Nem tanto assim —ela escondeu seu rosto em meu peito — Você precisava desse momento.
— Passei tempo demais remoendo minhas feridas — suspirei em seus cabelos. — Eu não quero mais deixar minha vida passar —alisei seus cabelos castanhos que iam até a metade das costas.
— E não vai, você tem tudo que precisa para conseguir o que quiser, só precisa despertar aí dentro.
— Eu estava cego, Rose, cego por não saber o que fazer com a minha vida, de não ser suficiente para Otávio. Eu precisava colocar tudo em ordem. Acredito que quando achar o diário de Margareth tudo entrará ainda mais nos eixos.
— Amanhã eu já começo a procurar no quarto do Otávio.
— Obrigado — ela levantou o rosto para me olhar e fiquei tentado a beijá-la de novo. Se não fosse aquele maldito corte!
— Seus olhos são pidões iguais os de Otávio — ela riu e não entendi — Eu consigo ler o que você quer, senhor — ela sorriu e se ergueu na ponta dos pés resvalando seus lábios nos meus — Temos tempo, afinal ainda estamos nos conhecendo, não é? — confirmei com a cabeça.
— Que essa boca sare logo, pode ligar amanhã para o doutor Daniel? — ela começou a gargalhar e levou a mão a boca se lembrando que Otávio dormia.
— Não pode falar essas coisas assim — ela se afastou ligeiramente e já fiquei insatisfeito.
— Ainda bem que você não lê pensamentos — ela ficou roxa e me recriminei por não conseguir segurar minha língua.
— Vou me deitar, Antônio. Boa noite — ela parou na soleira da porta e dei um selinho nela.
— Boa noite, Rose.
Rose
Quem consegue dormir com uma noite como essa? Eu não, com certeza!
As borboletas no meu estomago estavam tão agitadas que faziam cocegas, eu só conseguia sorrir com tudo que estava acontecendo. Era algo impossível na minha cabeça, ter um homem daqueles interessado em mim.
Me sentei na cama e coloquei os dedos sobre minha boca sentindo ainda a textura de seus lábios sobre os meus. Um sonho que se tornou realidade. Deslizei na cama me cobrindo e sentindo o calor dele ainda no meu, seu cheiro impregnando em cada parte da minha roupa. Acabei pegando no sono com seu rosto fixo em minha mente.
A noite passou tão rápido que quando ouvi os primeiros gemidos de Otávio, quis me recusar a acordar. Eu tinha medo de descobrir que a noite anterior tinha sido apenas um sonho e que a realidade voltasse com tanta força que eu cairia de cara no chão.
— Acordou cedo hoje, meu bem — falei o pegando no colo. O sorriso enorme já estava no rosto. — Não deu tempo nem da titia se arrumar — beijei sua testa e fui até sua cômoda procurar uma roupa para colocar nele. — Pelo visto hoje vai ser um dia de grandes aventuras para o senhor — seus dedinhos já estavam enrolados meus cabelos.
Peguei uma camiseta branca lisa e um shortinho de malha para ele ficar à vontade. Troquei sua fralda de pano o deixando cheirosinho e limpinho. Assim que terminei de pôr a roupa, o coloquei de volta no berço e fui me trocar também. Corri até o banheiro e fiz minhas necessidades e escovei meus dentes.
Voltei para o quarto e o peguei no colo saindo para ir direto para a cozinha. A casa ainda estava silenciosa, aparentemente Antônio ainda dormia, então daria tempo de fazer uma rosca de frutas do jeito que ele adorava. Entrei na cozinha e Bianca e Luana me cumprimentaram.
— Caiu da cama? — Bianca riu vindo pegar um pouco Otávio.
— Ele caiu — falei rindo indo atrás das coisas que eram necessárias para preparar a rosca.
— Vai fazer suas gostosuras hoje? — Luana falou parando ao meu lado.
— Sim, acordei com saudade dos quitutes da minha mãe — tive que dizer para não levantar suspeitas.
— Faz tempo que você não se anima a fazer, achei que estaria pronta para correr daqui hoje, depois de tudo que aconteceu.
— Eu não fiz nada, aquela mulher que se achou no direito de requerer algo que não era dela.
— Sim, Janice estava fora de si. Não entendemos nada, ela parecia ser tão boazinha.
— Quem vê cara não vê coração. — falei começando a juntar todos os ingredientes.
— E o patrão? — a olhei esperando que ela soubesse de algo. — Brigou muito com você? Por ter dado uns tapas bem-merecidos naquela mulher?
—Não, só me pediu para não deixar isso acontecer de novo — voltei a me concentrar na massa, eu podia sentir minhas bochechas queimarem. Nossa conversa ainda estava viva demais em minha cabeça.
—Ainda bem, eu com certeza ficaria do seu lado.
— Eu também. Você não fez nada para merecer aquela agressão gratuita. — Bianca entrou na conversa. Otávio brincava no colo dela com um carrinho que ele havia deixado ali no dia anterior.
— Não mesmo. — Luana foi até a chaleira tirar a água do café do fogo. — De certo ela ainda deve estar achando que o senhor Antônio cometeu uma injustiça.
— A com certeza ela pensa isso — Bianca reforçou.
— Meninas, vamos parar de pensar sobre isso. Vamos focar no que precisamos agora. — Eu já enrolava as roscas para deixá-las descansar — Precisamos nos concentrar em organizar as rotinas da casa até que alguém seja contratado. — As duas confirmaram. — Não vamos mais falar de coisas ruins.
— Você acordou bem-humorada hoje — Sorri de lado.
— Dormi bem — falei apenas.
— E pelo visto sonhou com o príncipe encantado.
— Ou seria um duque? — as duas riram.
— Não digam besteira. Eu não tenho interesse no senhor Vasconcelos. — Reforcei. Do jeito que Antônio adorava chegar nessas situações e entender tudo errado — Tenho que resolver isso o quanto antes. Ele tem que parar com essa loucura de flores. Está desmatando um jardim inteiro. — Bufei e as duas gargalharam.
— Só você mesmo para pensar nas pobres flores.
— Sim, penso mesmo. Aprecio muito mais um jardim como o do senhor Antônio, onde eu posso ver a vida acontecendo.
— Além de acordar feliz, ainda está filosofando.
— Rose... — olhei para a porta e vi Antônio todo arrumado para trabalhar e meu coração disparou no peito.
— Sim, senhor — vi ele torcer o nariz. Fui até a pia e lavei minhas mãos, secando no avental.
— Poderia me acompanhar por um minuto? — Suas íris brilhavam mais do que nos outros dias.
— Claro — sai atrás dele e as meninas deram pequenas risadinhas. Aquilo já me deixava aflita.