Capítulo 49
488palavras
2023-01-18 21:52
— O que aconteceu? - ele lançou um olhar cheio de brilho em minha direção. Estava prestes a chorar – Está tudo bem, Allan?
— Sim, está tudo bem. Com a Maria tudo certo. – Falou rápido – passou a mão sobre os olhos. Ele não se importava nem um pouco em chorar na minha frente – O problema foi eu ter caído na real sobre tudo o que você passou sem mim.
Não consegui dizer nada.

—Eu fui um covarde – uma lágrima, depois outra – você quase se foi e eu nem estava aqui para te defender.
—Isso não importa mais – falei, enfim, com um nó sufocando minha garganta – eu sobrevivi, não há porque se lamentar.
—Que diacho, Charlote – o arrependimento aflorava nele, eu podia ver – eu te fiz uma promessa que voltaria para ficarmos juntos, mas fiquei tão deslumbrado com São Paulo que me esqueci o quanto você precisava de mim aqui.
—Eu precisava – sussurrei, abaixando a cabeça.
—Será que algum dia você vai poder me perdoar?
—A responsabilidade não era sua.

—Deixe de ser tabacuda, Charlote – segurou em meu queixo erguendo o meu rosto – responda se sim ou se não.
—Está perdoado – ele sorriu e então me abraçou – eu não quero remoer o passado e nem guardar mágoas de ninguém. A vida precisa seguir em frente.
—Eu tenho muito orgulho de você – se afastou, me olhando com ternura – eu já te disse isso?
—Nunquinha – rimos – e apesar de tudo, também sinto o mesmo por você. Se tornou um homem bom.

Eu não conseguia dizer mais nada, mesmo se quisesse e tivesse milhares de outras coisas para dizer a ele, eu prefiro me silenciar. Eu tinha muitas outras coisas para resolver ainda. Afastei o sentimentalismo e foquei no objetivo.
Saímos do posto de saúde depois de eu muito insistir com os pais dela para que incentivassem Maria a voltar para escola. Eu estava borocochô, mas tinha milhares de planos na minha cabeça de como eu ajudaria aquela menina e todo o colégio do arquipélago.
Então, caminhamos de volta para casa.
Allan estava animado. Tinha na mente centenas de boas ideias para o programa que a ONG faria naquele ano na escola do arquipélago. Eu me sentia bem em estar do lado dele, feliz mesmo, mas aí me lembrava que em breve ele partiria. Allan nem tocava no assunto sobre a possibilidade de ficar no arquipélago. Então eu tratava logo de cair na real. Aquele momento era passageiro e quando ele voltasse para os braços de Roberta eu teria que esquecê-lo inevitavelmente.
Foi então que, no meio da sua empolgação, ele parou no meio da rua, com o olhar fixo em algum lugar, assustado. Puxou meu braço e me arrastou para o muro. Estávamos em uma esquina, ele esticou o pescoço, observou alguma coisa do outro lado, enfim, olhou para mim e falou: